Pular para o conteúdo principal

Síntese à Critica Social do Julgamento do Gosto de Bourdieu


Títulos e ascendência de nobreza cultural
Gosto é a manifestação direta do nível de sensibilidade de um indivíduo a estímulos culturais vividos e adquiridos.  Podendo ser maior ou menor conforme sua posição condição social e nível cultural.
A sociologia em sua natureza inquisidora questiona a relação entre gosto e a educação, entre a cultura no sentido de Estado do que é culto e a cultura como ação de tornar culto, o paradoxo segundo o qual a relação com o capital escolar permanece também forte nos campos não abrangidos pelo ensinamento da escola.
Objetivar a cultura é entender o porquê que seus agentes a protegem da objetivação.
 O Antagonismo entre “intelectuais e “burgueses”. É somente opondo intelectuais e burgueses que se define os interesses genéricos associados ao campo cultural.
Objetivo: determinar como a disposição culta da competência cultural adquiridas através da natureza dos bens consumidos e da maneira de consumi-los variam segundo as categorias de agentes e seguindo os terrenos aos quais eles se aplicam nos domínios da pintura ou da música, até o vestuário, mobiliário ou cardápio. E nos domínios legítimos como o escolar ou o extraescolar.
Dois fatos fundamentais: a relação estreita que une as praticas culturais ao capital escolar e à origem social e, por outro lado, o fato de que capital escolar equivalente aumenta o peso da origem social no sistema explicativo das praticas ou das preferencias quando nos afastamos dos domínios mais legítimos.
Quanto maior e mais adequado sua competência cultural ao sistema escolar maior será o seu desempenho. O diploma como legitimador e o título da instituição escolar atrelado ao seu capital cultural adquirido.
Entre as opções de consumo ofertada as que melhor determinam a classe são as obras de arte legitimas, pois permitem produzir distinção, criando divisões e subdivisões em gêneros, épocas, maneiras de executar, autores, etc. universos de gostos singulares, podendo deste modo distinguir oposições e distanciamento de gostos.
Títulos de Nobreza Cultural
Relação estreita entre o capital escolar e conhecimentos ou praticas em campos estranhos ao ensino escolar quanto à musica ou à pintura suscita à semelhança da relação entre a frequência dos museus  e o diploma , ou seja, a identidade real dos dois termos associados se definem em sua própria relação: o esforço para compreender a relação estatística se torna manifesta na pesquisa ao mesmo tempo, dissimula uma relação semântica que encerra a sua verdade. O cálculo puramente estatístico das variações da intensidade da relação entre tal indicador a esta ou aquela pratica não autoriza dispensar o cálculo sociológico dos efeitos que se exprimem na relação estatística da analise e cuja descoberta pode ocorrer com a contribuição da análise estatística quando ela está orientada para a busca da sua própria inteligibilidade.
O Efeito do Titulo
Este capital é o produto garantido dos efeitos acumulados da transmissão cultural assegurada pela família e da transmissão cultural assegurada pela escola. Para constituir a disposição geral adquirida as práticas escolares tendem a aplicar conhecimentos além dos limites curriculares, através de uma propensão desinteressada para acumular experiencias e conhecimentos que nem sempre são rentáveis economicamente. Praticas culturais não ensinadas e nem exigidas expressamente pela instituição escolar variam de maneira estreita em função do diploma. Desenvolvendo assim um capital cultural compatível com as características exigidas pela sua posição social.
Segue -se um esforço de apropriação cultural como exigência objetiva à filiação burguesia. A instituição escolar produz a imposição de títulos para efeito de atribuição estatutária, positiva(enobrecimento) ou negativa (estigmatização) fixando classes hierarquizadas.
Possuir capital cultural, mas não possuir certificação escolar podem a qualquer momento ter seu conhecimento questionado pela ausência de certificação por serem identificados apenas pelo que fazem. Detentores de títulos de nobreza cultural não são questionados sobre sua competência ou função. Está certificada a sua virtude. Títulos legitimam a ser o que são. Títulos hierarquizam os seres, separando-os por uma diferença da natureza: simples plebeus desvalorizados como autodidatas ou substitutos e a nobreza que perpetua a ilustração da essência em virtude da qual eles são realizados.  A instituição escolar legitima pela aquisição de uma cultura geral e torna-se um empreendimento cada vez mais fortemente exigido à medida que alguém se eleva na hierarquia escolar.
As diferenças oficiais produzidas pelas classificações escolares tendem a produzir ou fortalecer diferenças reais nos indivíduos através da crença nas diferenças de competência levando a aproximar o ser real do ser oficial.
Quanto maior o prestigio da instituição maior será o valor do seu título.
A Disposição Estética
Toda a obra tende impor as normas de sua própria percepção, assim, define e aciona certa disposição e certa competência como único e legitimo em uma tentativa para constituir um modo de percepção particular levando à ilusão de que serve de fundamento ao reconhecimento da legitimidade artística.
Tende -se a determinar a relação do individuo com a obra de arte pela perspectiva carismática de que se configure um dom da natureza ou produtos da aprendizagem, desvelando as condições dissimuladas do milagre da distribuição desigual, entre as classes, da aptidão para o encontro inspirado com a obra de arte.
Para abordar objetos considerados como obras de arte é necessário levar em conta a gênese coletiva e individual deste produto da história, sua razão de ser para entende-la de fato. A percepção apenas estética do objeto de arte constituiria, de algum modo, uma negação prática da intenção objetiva do mesmo.
No interior das classes dos objetos, estes, são definidos por oposição a sua funcionalidade. Os objetos de arte definem-se pela exigência de ser percebidos segundo uma intenção propriamente estética, ou seja, de preferência a sua forma e não a sua função.
Quanto mais atenção se dá a elaboração de uma forma maior será a tendência para que ela se torne uma obra de arte. A linha de demarcação entre o mundo dos objetos técnicos e o mundo dos objetos estéticos depende da intenção do produtor do objeto. A intenção é, por sua vez, o produto das normas e das convenções sociais que contribuem para definir a fronteira entre um ou outro.
A apreensão e a apreciação da obra dependem da intenção do espectador. É função das normas convencionais regular a relação entre a obra de arte e a situação histórica e social a que pertence, ao mesmo tempo garantir a o espectador a aptidão para conformar-se a essas normas. A percepção “pura” da obra de arte, enquanto obra de arte, é o produto da explicitação e da sistematização dos princípios da legitimidade propriamente artística que acompanham a constituição de um campo artístico relativamente autônomo. E o museu de arte é a disposição estética constituída em instituição.
O Gosto Puro e o Gosto Bárbaro
Nunca foi exigido tanto do espectador compreender a operação originaria pela qual o artista produziu sua obra. Criando uma linha entre quem compreende ou não o conceito. Há um conceito quase criador que separa o “olhar puro” do comum por uma diferença radical.
Ortega y Gasset: A ideologia do dom: efeito sociológico que a nova arte produz ao dividir o publico em duas “castas antagônicas” - aqueles que compreendem e aqueles que não compreendem. Duas variedades distintas da espécie humana. A nova arte não é para todo mundo. Somente para uma minoria dotada de “dons especiais”.
Suzanne Langer: “Outrora as massas não tinham acesso à arte; a música, a pintura e, até mesmo, os livros, eram prazeres reservados às pessoas ricas. Seria supor que os pobres poderiam igualmente usufruir dela se lhes tivesse dada essa oportunidade. Mas, atualmente, em que cada um tem a possibilidade de ler, visitar museus, escutar a grande musica, pelo menos no rádio, o julgamento das massas sobre estas coisas tornou-se uma realidade e, através dele, tornou-se evidente que a grande arte não é um prazer direto dos sentidos.”
O olhar puro implica uma ruptura com a atitude habitual em relação ao mundo, que é, por isso mesmo, uma ruptura social. Uma ruptura com as emoções e sentimentos que os homens comuns experimentas em sua experiência comum. Uma fuga da estética popular pela oposição ao que é considerado erudito.
A Estética Popular
Compreende-se a “estética popular” como uma continuidade da arte na vida, que implica a subordinação da forma à função ou melhor, a recusa da recusa que se encontra na própria origem da estética erudita, um corte radical entre as disposições comuns e a disposição propriamente estética.
Uma hostilidade das classes de menor capital cultural em relação a qualquer experimentação formal. O publico popular diverte-se com intrigas orientadas para que tenham um final feliz, figuras com ações ambíguas, problemas enigmáticos e heróis que se pareçam consigo. Um desejo de entrar na representação, identificando-se com as alegrias e sofrimentos dos personagens. “Estamos aqui para nos divertir”.
Tendência a aceitar experimentações formais e os efeitos propriamente artísticos desde que possam ser esquecidos e não criem obstáculos à própria percepção da substância da obra. Um popular em presença de coisas eruditas, vivencia uma confusão que pode chegar, inclusive, a uma espécie de pânico mesclado com revolta, diante de certos objetos.
Espectadores das classes populares insurgem-se não só porque não sentem necessidade destas representações puras, mas porque compreendem, às vezes, que sua necessidade vem da lógica de certo campo de produção que, por estas mesmas representações, os excluí. A experimentação formal como um indicio do que, às vezes, é vivenciado como o desejo de manter à distância o não-iniciado.
A televisão faz parte do aparelho que sempre trata o erudito, o experimental com um caráter sagrado, distanciando o popular da frieza calculada de qualquer experimentação formal. Uma recusa de comunicação escondida na própria comunicação dissimulando e recusando  o popular em uma permanente advertência contra a tentação da familiaridade.   


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fichamento Introdução de Os Estabelecidos e os Outsiders

Os Estabelecidos e os Outsiders Sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade Norbert Elias e John Scotson Apresentação à Edição Brasileira Federico Neiburg Trata-se de uma etnologia, resultado de quase três anos de trabalho de campo em que foi observado a relação de poder entre a elite establishment de Winston Parva (nome fictício para a comunidade estudada) e os demais indivíduos dessa comunidade outsiders. Establishment: grupo formado pelos established que se auto percebe reconhecido como a “boa sociedade”, mais poderosa e melhor (tradição, autoridade e influência); Outsiders: os “outros” (no plural pois não formam um grupo social)  À margem do establishment;  Estigmatizados por todos os atributos associados com a anomia, delinquência, a violência e a desintegração; Os estabelecidos e os outsiders são separados por um laço tenso e desigual de interdependência:  Superioridade social e moral;  Auto percepção e reconhecimento; Pertencimento e e

Fichamento de Os Nuer Introdução ao Sistema Político

Fichamento de Os Nuer    Uma descrição do modo de subsistência e das instituições políticas de um povo nilota de E. E. Evans Pritchard Introdução Parte da busca realizada por Evans Pritchard sobre as populações Nuer e Dinka. Nuer: povo nilota que se auto denomina nath (singular ran); de aproximadamente 200 mil indivíduos vivendo nas savanas planas que margeiam o rio Nilo; altos, de membros longos e cabeças estreitas; Nuers e Dinkas se assemelham físico e culturalmente.   Ambos os grupos reconhecem uma possível origem em comum. Evans Pritchard confessa dificuldades para compreender o shilluk (idioma falado tanto pelo povo Nuer quanto pelo povo Dinka), sua estrutura social e cultura. O sistema político Nuer inclui todos os povos com os quais eles têm contato. Os Nuer, os Shilluk e os Anuak ocupam, cada um, um território continuo, porem cada grupo em sua grande área separada. Os Nuer e os Dinka estão divididos em uma série de tribos que não possuem uma organização comum ou

Resenha do texto “Sabe Com Quem Está Falando” de Roberto DaMatta

Apresenta de forma simples e objetiva a categorização de indivíduos antes anônimos e, quando confrontado em uma situação de insegurança no ambiente da rua, surge, a identidade como respaldo e diferenciador social. Um artificio cultural, que, para DaMatta, é inerente ao brasileiro, como uma identidade cultural, mesmo que apresente peculiaridades do nosso caráter que preferimos manter ocultas ou utilizar em última instância. Em outras palavras, ensinamos o samba e o futebol, falamos da praia e da mulher brasileira, das nossas informalidades e aberturas (certamente indicadoras de nossa vocação realmente democrática), mas jamais estampamos diante da criança e do estrangeiro o "sabe com quem está falando? A expressão é geralmente empregada em uma relação hierárquica de cima para baixo, o que não impede que indivíduos de classes dominadas também não possam apropriar-se de sua proximidade a uma figura de poder para se beneficiarem em um determinado momento mesmo que pareça pernóst