Mecanismos extremamente complexos pelos quais a instituição escolar contribui para reduzir a distribuição do capital cultural e assim, a estrutura do espaço social. A reprodução da estrutura de distribuição do capital cultural se dá na relação entre as estratégias das famílias e a lógica especifica da instituição escolar.
As famílias são corpos animados por uma tendência a perpetuar seu ser social, com todos os poderes e privilégios, e assim, é a base das estratégias de reprodução, de fecundidade, de herança, econômicas e educativas.
Investe-se mais tempo na instituição escolar quanto mais importante for seu capital cultural e quanto maior for o peso relativo de seu capital econômico.
Pensar o capital cultural nos faz compreender o interesse crescente que as famílias privilegiadas e, entre elas, as famílias de intelectuais, de professores ou de membros de profissões liberais dedicam a educação. Ele nos permite compreender também que as mais altas instituições escolares sejam cada vez mais monopolizadas por crianças de categorias sociais privilegiadas. Permite compreender não apenas como as sociedades avançadas se perpetuam, mas também como elas mudam sob o efeito de contradições especificas do modo de reprodução escolar.
A instituição escolar institui fronteiras análogas àquelas que separam a grande nobreza, e esta dos simples plebeus. Separação marcada pelas próprias condições de vida, pela oposição de uma vida dedicada aos estudos que impõe uma série de características uteis ao mundo dos negócios e outra despretensiosa, com menos disciplina e regulamentação. Uma fronteira que separa o ultimo diplomado do primeiro reprovado por uma diferença de natureza, marcada pelo direito de usar um nome, um título.
A classificação escolar é sempre um ato de ordenação. Institui uma diferença social de estatuto, uma relação de ordem definitiva: os eleitos são marcados, por toda vido, por sua pertinência. Eles são membros de uma ordem nobiliárquica de pessoas separadas dos comuns mortais por uma diferença de essência, legitimados para dominar. A separação ordenada pela escola é também uma ordenação no sentido de consagração de uma categoria sagrada, de uma nobreza.
O exame como processo racional é muito parcial. Os exames ou os concursos justificam em razão de divisões que têm a racionalidade como princípio e os títulos que sancionam seus resultados apresentam como garantia de competência técnica certificados de competência social muito próximos dos títulos de nobreza. A entrega de diplomas, feita em cerimonias solenes é comparável à consagração do cavaleiro.
A instituição escolar introduz uma forma de meritocracia ao privilegiar aptidões individuais por oposição aos privilégios hereditários. Tende a instaurar através da relação encoberta entre aptidão escolar e a herança cultural, uma verdadeira nobreza de Estado onde autoridade e legitimidade são garantidas pelo título escolar.
Arte ou Comércio?
Habitus: espécie de senso prático de um sistema adquirido de preferencias, de princípios de mundo e de visão do que se deve fazer em dada situação e ambiente.
A lógica de competição obrigatória que domina a instituição escolar e o efeito destino que o sistema escolar exerce sobre os adolescentes é uma grande brutalidade psicológica que a instituição impõe com seus julgamentos e vereditos sem apelação que classificam todos os alunos em uma hierarquia única de formas de excelência.
Os excluídos são condenados em nome de um critério coletivamente reconhecido e aprovado, portanto, psicologicamente indiscutível e indiscutido, assim, para restaurar uma identidade ameaçada, com frequência, seguem-se rupturas brutais com a ordem escolar e a ordem social podendo agravar-se com o surgimento de doenças mentais ou suicídio.
Apêndice Espaço Social e Campo do Poder
A noção de espaço contém, em si, o principio de uma apreensão relacional do mundo social: ela afirma de fato, que toda a realidade que designa reside na exterioridade mutua dos elementos que a compõe. Indivíduos e grupos existem e subsistem na e pela diferença. Posições relativas em um espaço de relações que, ainda que invisível e sempre difícil de expressar empiricamente é a realidade mais real.
O espaço social global é como um campo, isto é, como um campo de forças cuja a necessidade se impõe aos agentes que nele se encontram envolvidos, e como um campo de lutas, no interior do qual os agentes se enfrentam, com meios e fins diferenciados conforme sua posição na estrutura do campo de forças, contribuindo assim para a conservação ou a transformação de sua estrutura.
Um grupo mobilizado para e pela defesa de seus interesses, não pode existir senão ao termo de um trabalho coletivo de construção inseparavelmente teórico e prático.
O campo de poder é o espaço de relações de força entre os diferentes tipos de capital para poderem dominar o campo correspondente e cujas lutas se intensificam sempre que o valor relativo dos diferentes tipos de capital é posto em questão, isto é, especialmente quando os equilíbrios estabelecidos no interior do campo, estre as instâncias especificamente encarregadas da reprodução do campo de poder são ameaçados.
Comentários
Postar um comentário