As noções de espaço social, de
espaço simbólico ou de classe social não são, nunca, examinadas em si mesmas;
são utilizadas e postas à prova em uma pesquisa inseparavelmente teórica e empírica
que a proposito de um objeto bem situado no espaço e no tempo.
Não podemos capturar a lógica
mais profunda do mundo social a não ser submergindo na particularidade de uma
realidade empírica, porém, observa-se apenas uma figura em um universo de
configurações possíveis. Uma analise do espaço total seria o da história
comparada, que se interessa pelo presente, ou da antropologia comparativa, que
se interessa por uma determinada região cultural, e cujo objetivo e apanhar o
invariante, a estrutura, na variante observada. O pesquisador objetiva
apreender estruturas e mecanismos que, ainda que por razões diferentes, escapam
tanto ao olhar nativo quanto ao olhar estrangeiro, tais como os princípios de
construção de espaço social ou os mecanismos de reprodução desse espaço.
O Real é Relacional
A leitura substancialista e ingenuamente
realista considera cada pratica ou consumo em si mesmas independente do
universo das práticas intercambiáveis e concebe correspondência entre as
posições sociais e os gostos ou as praticas como uma relação mecânica direta:
nessa lógica, o modo substancialista (senso comum) é racista, trata como essência
biológica o comportamento próprio de indivíduos ou grupos de uma sociedade, ignorando fatores
culturais.
Uma pratica inicialmente nobre
pode ser abandonada pelos nobres tão logo esta seja adotada por uma fração crescente
das classes populares, inversamente uma pratica inicialmente popular pode ser
retomada em algum momento pelos nobres.
Distinção: uma certa qualidade,
mais frequentemente considerada como inata que diferencia e separa seguindo
traço distintivo. Uma propriedade relacional que só existe em relação a outras
propriedades. Separa seguindo uma própria noção de espaço, um conjunto de
posições distintas e coexistentes, exteriores umas às outras.
O espaço social: é construído em
função de sua posição nas distribuições estatísticas de acordo com dois princípios
de diferenciação: o capital econômico e o capital cultural. Os agentes
têm tanto mais em comum quanto mais próximo estejam nessas duas dimensões e,
tanto menos quanto mais estejam distantes nelas. As distancias espaciais no
papel equivalem a distâncias sociais.
Os detentores de um grande
capital global opõem-se globalmente àqueles menos providos de capital econômico
e cultural. A cada classe de posições corresponde uma classe de habitus (ou
de gostos) produzidos pelos condicionamentos sociais associados à condição
correspondente e, pela intermediação desses habitus e d e suas capacidades geradoras,
um conjunto sistemático de bens e de propriedades vinculadas entre si por uma
afinidade de estilos.
Habitus: é o princípio gerador de
unificar que traduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição
em um estilo de vida, em um conjunto unívoco de escolhas de pessoas, de bens,
de práticas. Uma das funções da noção de habitus é a de dar conta da unidade de
estilo que vincula as práticas e os bens de um agente singular ou de uma classe
de agentes. Os habitus são diferenciados e também diferenciadores. São operadores
de distinções. Princípios geradores de praticas distintas e distintivas, são
também esquemas classificatórios, princípios de visão e gostos diferentes
estabelecendo distinções entre o que é bom ou mau, entre o que é bem ou mal, entre
o que é distinto ou vulgar, etc. Essas diferenças nas práticas, nos bens possuídos,
nas opiniões expressas tornam-se diferenças simbólicas e constituem uma
verdadeira linguagem. As diferenças associadas a posições diferentes funcionam
como diferenças constitutivas de sistemas simbólicos, como signos distintivos. A
diferença torna-se signo se lhe aplicamos um principio de visão e divisão. A
estrutura da distribuição, no espaço social está presente em todos os agentes e
estrutura as suas percepções. Uma violência simbólica estabelece que as artes
de viver sejam quase sempre dominadas, do ponto de vista destruidor e redutor
da estética dominante.
A Lógica das Classes
Espaço social é a realidade invisível,
que não podemos mostrar nem tocar e que organiza as praticas e as representações
dos agentes.
As classes teóricas estão
predispostas a se tornarem classes no sentido marxista do termo. Na existência de classes que reside o principal obstáculo a um
conhecimento cientifico do mundo social e à solução do problema das classes
sociais. Negar a existência de classes é negar a existência de diferenças e de princípios
de diferenciação.
Espaço social: um espaço de
diferenças, no qual as classes existem de algum modo em estado virtual. Um mundo
social com suas divisões, é algo que os agentes têm que fazer, a construir,
individual e coletivamente, na cooperação e no conflito. Uma estrutura de
distribuição de diferentes tipos de capital que comanda as representações desse
espaço e as tomadas de posição nas lutas para conserva-lo ou transforma-lo. O espaço
social é a realidade primeira e ultima já que comanda até as representações que
os agentes sociais podem ter dele.
Apêndice: A Variante “Soviética” e o Capital Politico
Espaço social como uma estrutura
de posições diferenciadas e definidas pelo lugar que ocupam na distribuição de
um tipo especifico de capital. As classes sociais são apenas classes lógicas,
determinadas pela delimitação de um conjunto homogêneo de agentes que ocupam
posição idêntica no espaço social cujo êxito pode ser favorecido, mas não
determinado, pela pertinência à mesma classe sociológica.
Para construir o espaço social é
preciso levar em conta os diferentes tipos de capital cuja distribuição
determina a estrutura do espaço social. O espaço social se organiza de acordo
com três dimensões fundamentais:
1. Os
agentes se distribuem de acordo com o volume global de capital possuído (todos
os capitais incluídos);
2. De
acordo com a estrutura desse capital, isto é, de acordo com o peso relativo do
capital econômico e do capital cultural do conjunto de seu patrimônio;
3. De
acordo com a evolução, no tempo de volume e da estrutura de seu capital.
As classes sociais se agrupam no
espaço social de forma altamente homogênea, nao apenas no ponto de vista de
suas condições de existência, mas também do ponto de vista de suas praticas
culturais, de consumo, de opiniões políticas, etc.
Todas as diferenças de
oportunidades de apropriação de bens e de serviço s escassos não podem ser racionalmente
relacionados a diferenças no capital cultural e no capital escolar que se
possui. Existe um outro capital cuja distribuição desigual está na base das diferenças
constatadas. O capital político, que assegura a seus detentores uma forma de
apropriação privada de bens e de serviços públicos. O capital social de tipo
politico transmitido através de relações familiares que levam à constituição de
verdadeiras dinastias políticas.
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